Prof. Dr. Ricardo Ferreira Bento
O que é Doença de Ménière?
A Doença de Mérière também denominada de Síndorme de Ménière foi uma doença descrita no século 19 por um médico chamado Prosper Ménière que percebeu uma doença que apresentava alguns sintomas característicos:
-vertigem- Normalmente em crises que podem ser mais ou menos freqüentes.
-Diminuição de audição que as vezes se apresenta de maneira "flutuante", isto é aq audição pode piorar ou melhorar.
-Zumbido
-Sensação de ouvido cheio (como quando a pessoa desce ou sobe serra)
Nem sempre necessariamente a pessoa tem todos os sintomas juntos, tem pessoas que apresentam 1 ou mais sintomas isoladamente.
Ela é uma das causas entre muitas que popularmente se chama de "Labirintite". O termo labirintite é um termo popular, usado geralmente para designar distúrbios relacionados ao nosso equilíbrio e audição. Sendo assim, uma "labirintite" pode significar tontura, vertigens, zumbido, desequilíbrio e varias outras formas de mal estar. Na verdade, o termo correto a ser usado é "labirintopatia", que significa "doença do labirinto".
Nosso ouvido possui dois componentes distintos: a cóclea (ou caracol), que é responsável pela nossa audição e o vestíbulo, que é responsável pelo nosso equilíbrio. Juntos, cóclea e vestíbulo formam o labirinto. O comprometimento desses componetes, individual ou separadamente, vai provocar sintomas como tonturas, desequilíbrio, surdez ou zumbido.
Esses sintomas aparecem porque nosso cérebro recebe informações erradas a respeito da nossa posição no espaço, geradas pelo labirinto doente, e como resultado, temos uma "alucinação de movimento". Essa alucinação pode sugerir que estamos rodando (vertigem), caindo (desequilíbrio), sendo empurrados (desvio de marcha), flutuando (falta de firmeza nos passos) ou ouvindo assobios, motores, etc.(zumbido).
Qual a causa da Doença de Ménière?
Não se sabe a causa da doença. Muitas teorias foram propostas porem, nenhuma delas ainda foi provada cientificamente..
Entre as inúmeras causas que podem desencadear a doença estão:
doenças pré-existentes como diabetes, hipertensão, reumatismos, etc.
alterações bruscas da pressão barométrica, como no mergulho e nos aviões.
infecções por herpes
Doenças auto-imunes.
alterações do metabolismo orgânico..
stress e problemas psicológicos..
Traumatimos na cabeça.
Alterações anatômicas vasculares.
Apesar de não sabermos a causa da doença, se sabe o que acontece com nosso labirinto na presença da doença.
Nosso labirinto funciona como um conjunto de canais ósseos preenchidos por um líquido aquoso semelhante ao líquido céfalo-raquidiano. Esse liquido quando se movimenta dentro dos canais do labirinto ao movimentarmos nossa cabeça estimula células sensoriais (receptores) que existem ao longo dos canais (semelhante ao que acontece com aquela bolha de ar que existe dentro de um "nível" utilizado pelos pedreiros) e com isso informa nossa posição no espaço. O que acontece na doença de Ménière é que por uma causa que não se conhece a pressão deste líquido aumenta dentro dos canais causando a estimulação das células e também lesionando as próprias células do labirinto e da cóclea.
Como é feito o tratamento ?
O tratamento pode ser dividido em três fases:
1. Tratamento dos sintomas.
2. Tratamento da causa (quando se encontra alguma causa provável como diabetes por exemplo.
1. Tratamento dos sintomas
A primeira parte do tratamento consiste em aliviar o sintoma: a tontura.
Para isso, são utilizados medicamentos sedativos bem como repouso quando necessário.
Os medicamentos hoje disponíveis podem ser agrupados em moduladores de fluxo sangüíneo, vasodilatadores, bloqueadores de canais de cálcio, anticonvulsivantes, antidepressivos, etc. Cada uma dessas drogas tem local diferente de atuação, bem como diferentes indicações. Uma droga que funciona muito bem no jovem, pode ser contraindicada no idoso e assim por diante. Nenhum desses medicamentos é isento de efeitos colaterais, portanto não aceite medicação de leigos, procure o seu médico otorrinolaringologista.
O tempo de tratamento vai depender da causa da doença e da sensibilidade individual do paciente.
2. Tratamento da causa
O tratamento da causa é aquele que investiga e trata o problema que poderia ter gerado a crise de síndrome. a doença do labirinto. O tratamento sintomático produz alívio dos sintomas, mas eles podem voltar se sua etiologia não for tratada.
O tratamento etiológico está baseado na investigação dos fatores de risco, que são os problemas metabólicos, infecciosos, reumáticos e anatômicos. Depois de um interrogatório clínico, onde o médico procura encontrar possíveis causas do problema, poderão ser feitos exames para obter alterações que levem ao sintoma de vertigem ou tontura. Os exames complementares são de audição e equilíbrio, de sangue e radiológicos.
Após confirmação do diagnóstico o médico inicia o tratamento, que pode ser feito pelo otorrinolaringologista ou outro especialista, de acôrdo com o problema apresentado.
Na doença de Ménière pode ser usado diuréticos no sentido de tentar diminuir a pressão do líquido endolínfático.
3. Cirúrgico
Quando o tratamento clínico não tem sucesso e a pessoa continua tendo crises de tontura e queda progressiva da audição existem algumas cirurgias que podem ser feitas que apresentam bons resultados. A que mais utilizamos é a chamada cirurgia do saco endolinfático, na qual iremos deixar um dreno dentro do local que é acumulado o líquido que circula nos canais do labiríntico chamado saco endolinfático.
A cirurgia começa por uma incisão atrás da orelha por onde se expõe o ouvido e mastóide. Utilizamos um microscópio cirúrgico e um micromotor com brocas. Com o micromotor retiramos parte do osso da mastóide (osso atrás do ouvido) e expomos a meninge que protege o cérebro. Em uma pequena área da meninge existe uma estrutura que se chama saco endolinfático, que nada mais é do que uma pequena dobra da meninge formando uma bolsa. Na cirurgia, abrimos esta pequena bolsa e colocamos um pequeno dreno de silicone para evita que ela se feche novamente.
Quais são os riscos da cirurgia ?
Em toda cirurgia existem riscos e complicações que são raras mas podem acontecer e todos os pacientes devem ter conhecimento. Nesta cirurgia estamos explicando o que pode acontecer em alguns casos. Estes eventos e complicações são muito raros nesta cirurgia. Qualquer dúvida pergunte ao seu médico que ele lhe explicará com detalhes.
1- Infecção no ouvido
Podemos ter infecção no ouvido operado. Esta infecção é tratada com medicamentos, mas outra cirugia pode ser necessária.
2- Perda da audição
Em qualquer cirurgia de ouvido pode haver uma perda da audição do ouvido operado. A perda total da audição é uma complicação muito rara.
3- Zumbido
É bastante raro o aparecimento (barulho) no ouvido depois da cirurgia, porém o barulho de antes da cirurgia pode continuar ou até aumentar.
4- Tontura
Este tipo de cirurgia muito raramente dá tontura, já que ela é feita parta melhorar a tontura, porém em casos raros pode acontecer e demorar algum tempo para diminuir ou passar.
5- Distúrbio de gosto
Em alguns casos o paciente pode sentir um gosto metálico ou diferente na boca durante alguns ou meses.
6- Fraqueza na face
Outra complicação rara é a fraqueza na face, que acontece quando o nervo da facial é acometido durante a cirurgia. Normalmente essa fraqueza volta após um tempo mas pode ser em casos muito raros uma paralisia totaL. Utilizamos obrigatoriamente em todas as cirurgias monitoração intraoperatória do nervo fazendo com que esse risco seja muitíssimo pequeno.
Quais são os resultados esperados nesta cirurgia ?
A cirurgia tem um resultado excelente quanto à melhora das tonturas (em nossa experiência em cerca de 90% dos casos cessam ou melhoram muito as tonturas)
A progressão da perda auditiva também na grande maioria dos casos para e a audição permanece nos mesmos níveis de antes da cirurgia podendo até melhorar.
O zumbido também pode melhorar mas isso nem sempre acontece.
Enfim a cirurgia é a melhor opção nos casos em que o tratamento clínico não está fazendo efeito.
Existem outros tipos de cirurgias que podem ser realizadas caso a drenagem de saco não tenha o resultado desejado e que devem ser discutidas com seu médico.
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