Um sério problema de saúde - e o pai que propagandista de laboratório farmacêutico, da Bayer, influenciaram Dr. Sérgio Garbi, quando menino, a pensar em trabalhar na área médica. "Eu tive conjuntivite crônica dos sete aos 13 anos e o frequentei o consultório para tratamento com grande frequência nesse período da minha vida. O cuidado do médico associado ao fato de meu pai, Mario Garbi, trabalhar na área de medicamentos já exercia influência. Quando tinha oito anos meu pai comprou uma farmácia no bairro em que morávamos e eu fiquei responsável por passar a lista de encomenda de medicamentos ao distribuidor, diariamente, por telefone (em 1.959, só havia um aparelho na Vila Formosa, onde morávamos que ficava apenas a 13 km da Praça da Sé e eu precisava aguardar a ligação para fazer a encomenda), fizeram com que aumentasse meu interessasse em trabalhar na área da Saúde", lembra o médico.
Na adolescência, Dr. Sérgio estudou em colégio estadual, e fez o científico voltado à medicina, conseguindo ingressar nas Faculdades de Ciências Médicas de Santos da Fundação Lusíadas. "Já estou formado há 40 anos, mas me lembro de cada ano da faculdade. E, em 1971, fiz o internato no Hospital do Servidor Público Estadual e, um ano e meio depois, prestei concurso para residentes de otorrinolaringologia no Hospital das Clínicas. Só tinham quatro vagas e uma delas era reservada a quem havia estudado aqui. Passei , fiz a residência em 73 e 74 e fui contratado após concurso público em 76", lembra.
A parte prática da otorrinolaringologia foi a que mais interessou Dr. Sérgio Garbi. "Na época da faculdade, me interessei por endocrinologia, pneumologia e oftalmologia. Optei pela otorrinolaringologia porque chama a atenção pelo sucesso e cura dos pacientes. É uma especialidade que realmente soluciona os problemas de saúde de quem o possui", explica o médico.
Segundo ele, o que sempre lhe atraiu foi à reconstrução, a recuperação nessa área. "Eu ficava nos plantões do pronto-socorro e todos os casos de acidente vinham para o Hospital das Clínicas, nessa época. Foi o início das motos e lambretas em São Paulo e os fuscas entravam sempre na traseira de caminhões. Realizei com meus colegas muitas cirurgias de reconstrução de face - mandíbula, afundamento na face, traumatismo de laringe. Dr. Hiram foi o meu parceiro de plantão. Foram 21 anos de plantões semanais. E, no início desse trabalho, fiz ainda medicina do trabalho e administração hospitalar. Entre 1992 e 2002, fui chefe do ambulatório geral da otorrinolaringologia. Quando me desliguei, estava começando o Programa de Saúde Auditiva do governo. Então, começamos um novo projeto que dei o nome de Reouvir", diz o médico.
Reouvir, um modelo para várias universidades do Brasil
Dr. Sérgio trabalhou anos em empresas como médico do trabalho. "Foi uma época muito boa, onde descobri como a profissão pode ajudar muito mais do que eu imaginava. Dentre o trabalho que eu fazia, estava aconselhamento através de palestras com aulas de planejamento familiar, como evitar acidentes caseiros, entre outras. E sempre os funcionários das empresas onde eu trabalhava, elogiavam o que realizávamos em equipe", conta Dr. Sérgio.
O Programa Reouvir foi outro desafio que o médico junto com a esposa, Dra. Mara Gândara, abraçaram. "Nós adaptamos a clínica às normas vigentes da época e modificamos a história de reabilitar o paciente só com adaptação de aparelhos de amplificação sonora convencional. A reabilitação é muito mais que isso e envolve, além da equipe multiprofissional, os familiares dos pacientes. Adequamos a clínica às portarias do Ministério da Saúde e, juntamente com fonoaudiólogas começamos, em uma casa alugada a atender um público que já existia, pois havia uma demanda muito grande reprimida. E o Reouvir - nome que demos e não existe definição no dicionário exatamente por ser a reconstrução da audição perdida através dos anos - foi um sucesso tão grande que se tornou referência para serviços similares em outros estados do Brasil. Atualmente, são mais de 10 mil aparelhos doados, todos com seleção e adaptação feita de acordo com a necessidade de cada um dos usuários", diz ele.
Para que o programa se tornasse um sucesso, todos os detalhes foram pensados - e repensados - pela equipe. "Temos uma atividade voltada à reabilitação, com esquema de acompanhamento anual. Implementamos todo o trabalho a partir dos questionamentos dos pacientes e seus familiares, orientamos a todos e chamamos à família a responsabilizar-se pelo idoso que cuidamos. Deixamos claro que o aparelho auditivo é um componente da reabilitação auditiva. Nas palestras, orientamos as famílias em relação ao tratamento e falamos sobre a expectativa, esclarecendo que não adianta dar o aparelho auditivo se não houver treinamento obrigatório. Voltar a ouvir exige trabalho de todos - do paciente aos familiares. E isto temos divulgado a todos os otorrinolaringologistas em aulas de congressos ou em cursos ministrados por nós", explica o médico.
E as atividades do dia a dia interferem na vida familiar? Segundo Dr. Sérgio Garbi, não. "São oito horas de trabalho diário, e, às vezes, até mais. Mas não deixo de ter os meus hobbies. Até um ano atrás, joguei futebol de salão quando tive uma lesão no joelho, mas dançar com a minha esposa e parceira e tocar piano ou violão ainda fazem parte da minha vida. Além disso, adoro mexer no jardim da minha casa, consertar o que quebra - de um carro ao meu otóscopio. Se eu não fizer isso, acabo vivendo em função do trabalho. Se me perguntam qual meu maior defeito e minha maior virtude diria que é o perfeccionismo atribuído aos nascidos sob signo de escorpião. Adoro fazer tudo dar certo como virtude mas sei que incomodo muitos com minhas manias de perfeição", continua ele.
Dr. Sérgio Garbi afirma que a otorrinolaringologia assim como toda a medicina deu um grande salto a partir da chegada da fibra ótica. "Comecei no HC-FMUSP na época do Prof. Dr. Rafael da Nova. Hoje, as especialidades conseguem diagnosticar doenças muito mais rapidamente. Assisti várias mudanças aqui no HC. Cada titular da disciplina tinha um perfil. O Prof. Dr. Ricardo Bento tem uma capacidade de trabalho admirável. Ele puxa as pessoas e faz com que elas desenvolvam seu potencial. E faz acontecer. E sempre em equipe. É dessa maneira que o Reouvir ganhou mais força e, atualmente, é um programa admirado em todo o Brasil", finaliza o médico que atende, pelo programa, mais de 300 pacientes por mês.
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