PERFIL MÊS: PROF. DR. DOMINGOS HIROSHI TSUJI

Um dos mais renomados médicos e cirurgiões do Brasil, com técnica cirúrgica desenvolvida por ele, a partir de duas existentes cujos resultados não eram completamente eficazes e que auxiliam muito na recuperação da voz


23/01/2013

Um dos mais renomados médicos e cirurgiões do Brasil, com técnica cirúrgica desenvolvida por ele, a partir de duas existentes cujos resultados não eram completamente eficazes e que auxiliam muito na recuperação da voz, Prof. Dr. Domingos Hiroshi Tsuji nunca se viu exercendo outra profissão. "Nasci e cresci numa cidade sem recursos assistenciais, Marialva, no interior do estado do Paraná e desde pequeno dizia a minha mãe que quando eu crescesse seria médico. Nessa época, a vontade em me tornar um profissional de saúde vinha do receio infantil de não ter atendimento médico. De alguma maneira, eu me via autossuficiente como médico. Com o passar dos anos, entretanto, a visão da medicina mudou, mas nunca me vi em outra profissão", diz ele.

Caçula de dez filhos, Dr. Domingos cresceu em São Paulo, cercado de muito carinho. "Eu era o mais novo de uma família composta por oito mulheres e dois homens, e meus pais sentindo a necessidade de preparar os filhos para o futuro, venderam a pequena plantação de café que tinham e vieram para o bairro do Ipiranga, onde cresci. Estudei no Colégio Estadual São Paulo e depois de um ano de cursinho, quando estava com 19 anos, consegui ingressar no FMUSP", comenta.

Depois de tanta expectativa, o médico se sentiu tentado a desistir da faculdade algumas vezes. "Para me sustentar, trabalhava vendendo livros na área de saúde e dava aulas de química em um curso supletivo à noite. Mas, se pensei em desistir algumas vezes, quando começou o internato, ou seja, a parte assistencial da medicina, essa decisão foi totalmente revertida. Aí, me encontrei na profissão de vez. E a escolha para a otorrinolaringologia aconteceu por causa das microcirurgias e da possibilidade em atuar tanto clinicamente quanto na parte cirúrgica. As cirurgias otorrinolaringológicas não demandavam muito tempo e eram muito delicadas. Tudo o que eu gostava de fazer", continua o médico.

Universidade de Keio, uma lição com duração de dois anos

Assim que concluiu a residência, Dr. Domingos conseguiu um estágio e foi com a noiva Rosane para o Japão se especializar. "Chegamos a Tóquio onde tive um professor excelente, o Prof. Dr. Hiroyuki Fukuda, que me recebeu de maneira fantástica e sua especialidade em laringe e voz me encantou. A rotina de trabalho era tão bem organizada que não se via falha no modo produtivo deles. Todos os equipamentos funcionavam, as máquinas de exame eram perfeitas e todo o pessoal de auxílio técnico - as enfermeiras, instrumentadoras cirúrgicas, etc. - era completamente habilitado para fazer o que foi treinado. E eu tive a sorte de saber falar o idioma. Claro que me aperfeiçoei bastante lá. Foram dois anos muito proveitosos e foi no Japão que me casei", diz Dr. Domingos.

Quando retornou ao Brasil, prestou concurso para se trabalhar no Hospital Universitário da USP e passou. Depois de dois anos e meio, houve concurso para médico assistente da Disciplina de Otorrinolaringologia no HC e nesse, também, passou e foi efetivado. "Eu me dividia entre as aulas, o consultório e os hospitais que trabalhava e os plantões de 24 horas. O que eu gostava no pronto-socorro era o convívio com os residentes. Era possível fazer amizades verdadeiras e tive isso durante cinco anos. E as aulas, eu preparava no meu consultório nos finais de semana, fotografando cada uma no monitor do computador porque estávamos em 1993 e a internet era quase inexistente. Tudo tinha que ser feito manualmente", lembra o médico.

Além da tela do monitor fotografada, Dr. Domingos pesquisava artigos em revistas e bibliotecas para poder fotografá-los e demonstrar a importância de cada assunto nas salas de aula. "Eram artigos e exames de endoscopia otorrinolaringológica, tireoplastias e microcirurgias de laringe. Agora, é possível encontrar na internet. Nessa época, precisava ser fotografado para ser demonstrado - e ensinado - na sala de aula", diz ele.

O Prof. Dr. Domingos Tsuji afirma que sempre gostou de ministrar aulas. "Nesses quase 20 anos de carreira, devo ter ensinado a mais de cinco mil alunos, já que, além dos cursos no complexo HC-FMUSP, sempre toda a equipe de ORL do HC-FMUSP costuma ser convidada para dar aulas em outras cidades. Quando vou, não cobro nada. Minha vida foi cheia de restrições, mas o "universo" me auxiliou a conseguir muitas coisas boas na vida. Ensinar gratuitamente, em qualquer cidade do país, é a minha maneira de retribuir. De alguma maneira, o que sei será passado adiante e auxiliará uma terceira pessoa que necessita desse conhecimento", diz ele.

Em sua profissão, Dr. Domingos gosta de operar. "Só indico a cirurgia como a última opção terapêutica. E sei que faço bem feita. Apesar de não sermos infalíveis, é um momento em que não nos é permitido errar. O domínio da técnica precisa ser absoluto. Profissionalmente, sou muito perfeccionista e exijo muito de minha equipe. Só assim obtemos resultados positivos", continua o médico.

Houve uma cirurgia que o marcou muito. "Certa vez, operei uma senhora de poucas posses, que tinha disfonia espasmódica - no momento de falar, a laringe por algum motivo não obedece ao comando e fecha - , que cria um dos piores distúrbios vocais. Era um sofrimento para a paciente. Há quem use Botox para corrigir esse problema. Mas, juntei duas técnicas cirúrgicas- ambas com resultados não muito bons - e criei um terceiro tipo de técnica cirúrgica feita internamente, por via endoscópica, que tem dado resultados muito positivos. Foi o que fiz nela. Não ia cobrar nada porque sabia que era uma pessoa de poucas posses e ela me procurou no consultório. O resultado foi tão bom, a paciente ficou tão feliz - e era uma pessoa de uma ética absoluta - que veio me pagar. Trouxe o que tinha em casa, R$ 200,00 e me agradeceu. Eu sabia que se devolvesse ela se ofenderia. Então, fiz um quadro de uma das cédulas e coloquei no meu consultório. É um modo de me lembrar da importância de se dedicar com afinco à profissão, um motivo de orgulho pessoal", conta ele.

Doutorado e Livre-docência

Dr. Domingos fez o doutorado em 1997, desenvolvendo o tema Tireoplastia tipo I - Estudo experimental da vibração de pregas vocais com video-estroboscopia e, em 2002 defendeu a Livre Docência cujo tema da tese foi sobre a nova técnica cirúrgica para tratamento da disfonia espasmódica de adução. "Em 2008, fui aprovado no concurso para docente da Faculdade de Medicina. "Desde que comecei aqui no HC e na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, assisti a muitas mudanças. Atualmente, vejo no Departamento de Otorrinolaringologia o que vi no Japão quando fui fazer estágio lá. Há profissionais excelentes em ouvido, pescoço, laringe, nariz, otoneurologia, estomatologia, nomes fortes, profissionais que fazem a diferença em todas as áreas que se possa imaginar. Esse é um grande avanço e um excelente início para o sonho que está prestes a se concretizar com a construção do novo hospital que englobará ouvido e olhos. Esse novo hospital é mérito do empreendedorismo do Prof. Ricardo Bento, do Dr. João Rocco e da Adriana Fozzati. E no momento certo. Ou seja, quando toda a equipe está unida e trabalhando em conjunto", continua.

E a rotina de trabalho? Mudou conforme os anos se passaram? "Não, saio de casa às 6h30min da manhã e retorno por volta das 20 horas. Não tenho ido muito a jantares e reuniões sociais por causa do trânsito de São Paulo, mas gosto de ouvir música, jogar futebol e andar de bicicleta. Se eu pudesse voltar atrás, só seria menos estressado comigo mesmo. Minha vida é boa, amo o que faço e só consegui tudo o que consegui porque tenho uma parceira importantíssima, minha esposa. Não canso de elogiá-la aos meus amigos. Rosane, uma engenheira formada pela Poli, dedicou-se a nossa família e educou nossas duas filhas de maneira exemplar. Sempre tive liberdade para fazer o que quisesse. Nossas filhas são nota mil. Só podiam gastar menos com roupas", finaliza, rindo.