PERFIL MÊS: PROFA. DRA. RENATA CANTISANI DI FRANCESCO

Filha única de um casal cuja esposa é psicopedagoga e o pai, engenheiro mecânico, a escolha pela medicina surgiu, naturalmente, por volta dos dezesseis anos de idade.


23/05/2013

Filha única de um casal cuja esposa é psicopedagoga e o pai, engenheiro mecânico, a escolha pela medicina surgiu, naturalmente, por volta dos dezesseis anos de idade. "No final do primeiro ano do segundo grau, optei por Ciências Biológicas, já que neste curso poderia ter contato mais profundo com biologia e química, principalmente a orgânica, ciências que me despertavam interesse. E, unir isso ao cuidado com as pessoas, era outra aptidão que eu tinha", conta a otorrinolaringologista que, atualmente, se especializou em otorrinolaringologia pediátrica, que segundo a médica, foi uma escolha muito pessoal, sem interferência familiar, seus pais a auxiliaram a escolher o que quisesse e em nada, opinaram.

Durante a graduação na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, a otorrinolaringologia chamou sua atenção. "É uma especialidade que compreende aspectos importantes para o ser humano como a respiração e a comunicação. E, desde cedo, conhecia a especialidade, pois sempre ouvi as histórias de minha mãe que, em sua formação em pedagogia, trabalhava com crianças em Pedagogia Terapêutica em duas instituições de reabilitação de crianças surdas. E, durante, a residência, gostava das cirurgias de cabeça e pescoço, interessava-me as patologias do ouvido e a reabilitação da surdez, assim como o cuidado com as crianças que são frequentes no dia a dia da otorrino", diz ela.

A residência médica foi finalizada em 1.996 no Hospital das Clínicas da FMUSP e o estágio de complementação especializada em otorrinolaringologia, em 1997. "Durante a residência visitei alguns serviços no exterior, onde fiquei um tempo durante as férias. Fui para o House Ear Institute, em Los Angeles, Departamento de ORL John's Hopkins University coordenado pelo Prof. Dr. Charles Cummings e Eye and Ear Infirmary Massacuttes General Hospital, na Universidade de Harvard, com coordenação do Prof. Dr. Joseph Nadol", lembra a médica.

A audição e as patologias do ouvido sempre foram do interesse da Profa. Dra. Renata Di Francesco. "Iniciei como médica-assistente da clínica no grupo de ouvido, onde orientava os residentes em cirurgias otológicas. Em 97, fundei junto com acadêmicos a Liga de Prevenção à Surdez. Mas sempre tive interesse no cuidado das crianças, uma vez que estão em desenvolvimento e uma intervenção necessária transforma a sua vida. Então, em paralelo, passei a dedicar-me ao cuidado com as crianças e fui me especializando nesse atendimento. Há alguns anos, foquei minhas atividades no HC no atendimento delas, uma especialidade ainda emergente no Brasil. No decorrer desses anos, fiz o meu doutorado e sou livre docente desde 2010. Atualmente, coordeno o estágio de complementação especializada em Otorrinolaringologia Pediátrica", diz ela.

Publicações no exterior e segunda edição de um de seus livros
Dra. Renata se emociona com as grandes transformações no desenvolvimento das crianças quando se faz uma intervenção terapêutica. "Quando se proporciona uma respiração melhor, se trata - ou reabilita a perda auditiva - entre outros, assistimos a melhoria quase imediata do paciente. E isso emociona. Assim como o tratamento de crianças com múltiplas comorbidades como síndromes, paralisia cerebral, doenças raras e graves e quando um pequeno ganho faz uma enorme diferença. A emoção do otorrinolaringologista não vem somente de casos difíceis ou raros, mas, muitas vezes, de processos simples, do dia a dia de todo otorrino, como por exemplo, ver o desenvolvimento de fala de uma criança, semanas depois de se aspirar a secreção da orelha média, ou assistir a melhora da qualidade de vida depois de uma adenoamigdalectomia!", diz a médica.

Com 38 papers publicados - 13 internacionais -, três livros e aulas ministradas em congressos no Brasil e no exterior, além de cursos em universidades, a Profa. Dra. Renata Di Francesco, atualmente coordena o estágio de Complementação Especializada em Otorrinolaringologia Pediátrica, da ORLHCFMUSP, que possui uma interface com a Pediatria. "Temos uma 'ponte' com o berçário anexo à maternidade, ao ITACI - Instituto de Tratamento do Câncer Infantil, ao Instituto da Criança - e outras áreas da pediatria. Coordeno, também, o ambulatório de triagem de casos pediátricos e fibroscopia infantil. Junto dos residentes, discuto casos no ambulatório de pré-operatório para adenoamigdalecetomias e trabalho na Liga de Prevenção à Surdez, que, atualmente, atua conjuntamente com a Liga de Obstrução Nasal, formando a Liga de Habilidades em Otorrinolaringologia", diz ela.

Segundo a médica, a otorrinolaringologia cresceu muito nos últimos 19 anos. "Vimos surgir e crescer o implante coclear, os procedimentos endoscópicos diagnósticos e as técnicas cirúrgicas, o desenvolvimento de tantas subáreas como a medicina do sono, cirurgia craniofacial, a cirurgia da base do crânio, entre outras. E, dentro do cenário de pesquisas atuais, interesso-me pelos distúrbios respiratórios em crianças, influência da morfologia craniofacial e sua influência nas patologias otorrinolaringológicas, apneia obstrutiva do sono nas crianças e, atualmente, estamos pesquisando marcadores inflamatórios. Além de tudo isso, me interesso, , pelo diagnóstico da surdez na infância", relata.

Vida familiar e hobby caseiro
Com tanto tempo de trabalho, Dra. Renata concilia a vida profissional para acompanhar o desenvolvimento dos dois filhos, Lorenzo, 9 anos e Laura, 8. "Sou casada com Dr. Olavo Mion, grande companheiro do dia a dia, com quem compartilho, inclusive, as atividades profissionais. Costumamos operar juntos. Ele sempre apoia tudo o que eu faço. E conseguimos repartir o tempo de forma a poder desfrutar de atividades esportivas, de lazer, estudos com as crianças. E, para completar, tenho alguns hobbies. O primeiro é a dedicação à leitura e, o segundo, em ocasiões especiais, confecciono doces e biscoitos decorados, atividade que se torna diversão junto dos meus filhos.

Dra. Renata vê a Fundação Otorrinolaringologia como uma instituição muito importante dentro da ORL brasileira. "Ela tem como um de seus pilares a divulgação da informação, conhecimento, atualização e ciência aos colegas otorrinos do Brasil e de fora, com a parceria em congressos e intercâmbio em congressos internacionais. Acredito que logo assistiremos um aprimoramento maior em seus eventos, visando sempre o conhecimento dos temas mais atuais dentro da otorrinolaringologia", finaliza a médica.